Nós somos uma sociedade de hipócritas. Acusamos, apontamos, humilhamos e depois fazemos igual. Apontamos o dedo quando a situação não nos é favorável, mas se a mesma situação for benéfica para nós, tudo bem. Acontece com toda a agente, em todos os campos da vida.
Hoje vou falar da hipocrisia no que diz respeito ao ser magro vs gordo.
Dados do ano passado apontam que 13% da população mundial é obesa e estão concentrados no ocidente.
Desde já vamos colocar a questão da seguinte forma, tanto a anorexia como a obesidade são doenças, que podem ser prevenidas. Não são saudáveis, degradam o corpo e a saúde. No geral, são más.
Um dos meios onde isto é mais visível, porque é mais público, é no meio da moda. Houve alguns anos em que a ditadura da magreza imperou. As modelos tinham de ser muito magras, até com um aspecto doente, para poderem desfilar e ser apreciadas. Felizmente isto está a acabar. Na Europa vários países impuseram regras para que modelos demasiado magras não possam desfilar. Isto é bom apenas porque muitas delas estavam, efetivamente, doentes. Porque tinham de ser mais magras, não tinham alimentações saudáveis, virando piada como as modelos a comerem folhas de alface e a sentirem-se satisfeitíssimas.
Hoje, o paradigma é outro. Cada vez são mais e mais as campanhas de corpos reais, as quais muito aprecio. Mas é aqui que entra de novo a hipocrisia.
Há algum tempo atrás ficou conhecida uma modelo plus size, Tess Holliday, que tem 127 kg e 1,65m. É agenciada, já fez campanhas renomadas e é seguida por milhares no instagram.
A grande pergunta é, por representar uma parte da sociedade, é ok ter uma modelo obesa a ser aclamada como heroína?
Vendo as fotos a cima, posso dizer que acho as duas bonitas, porque felizmente fui educada a acreditar que a beleza não tem uma forma molde, que cada um pode ser bonito independente do tamanho ou forma. Mas, a questão que me preocupa não é essa, é a saúde. Porque se é mau proclamar modelos demasiado magras e mondar mentalidades de milhões de jovens em todo o mundo que o ser magro é que é aceitável é muito errado, o contrário também o é. Eu acho que o papel da Tess Holliday é importante, e tem de haver espaço para modelos como ela uma vez que realmente representam alguém, agora o que não concordo de todo é este histerismo e endeusamento em seu torno.
Ela pode ser linda e feliz, mas é obesa e isso é mau, para além de tudo.
Quando se fala em mudar paradigmas, definir novos conceitos, temos de ter muito cuidado com o que afirmamos. Há milhares de modelos chamadas de plus size que não são mais do que mulheres reais e saudáveis e isso sim, está incorreto.
Ficam imagens de Lauren Wells, Fluvia Lacerda e Whitney Thompson, mulheres reais apelidadas de plus size.
O que realmente acho? Que olhamos para estas questões mais uma vez em beneficio próprio. É mais fácil heroificar alguém perto do exagero do que olharmos para a cena real e apreciarmos a beleza de mulheres tão próximas a nós e mesmo assim tão distantes. Porque estas "plus size" têm a coragem de amar o seu corpo, mas como a grande maioria não o tem, é melhor glorificar uma modelo obesa, tão mais gorda, que nos faz sentir bem.
(Volto a afirmar que acho realmente a modelo Tess Holliday bonita, apenas não concordo com os padrões a que ela está referenciada.)