segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas

Hoje assinala-se o Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas. Pode parecer apenas mais um dia de prevenção de isto e daquilo, mas este, pessoalmente, é especial. Há questões estruturais na sociedade portuguesa que me afligem incrivelmente, a forma como tratamos os nossos idosos é uma delas. Não acho que todos os idosos virem santos apenas porque envelheceram, mas acredito que todo o ser humano tem de ser tratado com dignidade, e cabe a cada um de nós colaborar neste sentido. 
Eu fui daquelas crianças que ficava na mesa a escutar os adultos conversarem, a beber das suas histórias e experiência. Não acho que a idade é um posto, mas aprecio a vivência e os ensinamentos que podemos adquirir com aqueles que já muito passaram. 
Os idosos são seres frágeis, porque vamos lá, ninguém quer envelhecer, ninguém quer sentir o corpo a começar a falhar, a perder faculdades, a precisar de ajuda. E tudo isto se torna ainda mais difícil quando são tratados como um fardo. Conheço historias dramáticas, de idosos, que hoje estão abandonados pelos familiares por quem fizeram tudo. Filhos, netos e irmãos que hoje, ao já não precisarem deles, os depositam ou em lares, ou em casas isoladas, longe de acessibilidade e ajudar, longe de carinho e atenção.
Isto assusta-me. Acho que reflete muito bem aquilo que somos enquanto pessoas, porque se vamos marginalizar aqueles que um dia nos deram aquilo que precisávamos, e não falo apenas de bens materiais, mas do amor, somos capazes de tudo em beneficio próprio. 
A violência não é só física, o distanciamento e a frieza criam feridas muito grandes. A solidão, essa mata.

O meu avô tem 86 anos, à 6 anos e 8 meses teve um AVC que lhe colheu as faculdades e os movimentos. 6 anos e 8 meses deitado numa cama. A fisioterapia, as consultas de neurologia, o estimulo familiar, nada conseguiu atenuar os efeitos e hoje, passam-se dias sem falar, sem abrir os olhos. Mas há dias bons. Dias em que sorri e se lembra quem somos. Em todo este tempo, muitas foram as pessoas que lhe viraram as costas, amigos e familiares que simplesmente desapareceram. Mas houve também aqueles que ficaram e tornaram a restante vida do meu avô, mais fácil de aguentar.
Desde o equipamento necessário até a atenção e cuidados, tudo lhe é dado pelos meus país e avô. Em todo este tempo o meu avô nunca teve uma ferida, nunca teve nenhum problema a não ser os inerentes à própria doença e isto porque tem atenção.  
Eu nunca pensei em alimentar o meu avô ou mudar-lhe a fralda, mas faça-o e farei quantas vezes forem necessárias. Eu lembro-me do que um dia ele fez por mim, lembro-me do carinho e o mínimo que posso fazer é ajudar. 
Os meus país e avó são os heróis, são as pessoas que neste dia de prevenção podem ser usadas como exemplo. Porque custa muito, a todos os níveis. Mas não há nada mais reconfortante que saber que os nossos estão felizes e cuidados, qualquer seja a circunstancia. 

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