quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O dia que saí de casa.

Foi em 2009. No meu mês favorito, Setembro.
Entrei na faculdade e inevitavelmente tinha de abandonar a casa que foi o meu ninho pelos últimos 20 anos.
Escolher Lisboa para fazer faculdade foi propositado. Sempre fui uma pessoa livre e independente e depois de um gap year, onde fiz muita coisa, sentia-me mais que preparada para enfrentar o mundo sozinha e já conhecia a cidade razoavelmente. 
Verdade seja dita que o meu namorado já cá estudava, mas viver com ele nesta fase era impensável, eu queria mesmo viver sozinha.
Verdade também que muitas dessas noites passei com ele, outras tantas com amigos e maioria a festejar por esta bela cidade. Afinal estava na faculdade.
Na primeira fase dividi casa com uma colega de faculdade, que além de gostar imenso, não éramos propriamente amigas. 
Assim podem ver que me atirei aos lobos. E venci.
Tudo correu bem porque fui sem medo, porque mesmo que em alguma altura fizesse asneiras não iria ser o fim do mundo. 
Mas muitas coisas custaram, imenso.

Cozinhar. Hoje adoro cozinhar mas naquela altura não era a minha atividade favorita. Claro que em casa, vulgo casa dos meus pais que será sempre a minha casa, cozinhava algumas refeições e divertia-me. Agora cozinhar todos os dias é outra conversa. Nunca percebi muito bem o drama da minha mãe quando reclamava que tinha de pensar muito o que iria cozinhar em cada dia e finalmente percebi. Ou tens imaginação ou acabas a comer o mesmo de dois em dois dias. 
E cozinhar peixe. Eu adoro comer peixe, mas cozinha-lo e arranja-lo. Aí. Foram momentos de drama, muito drama.

Passar a ferro. Sabes quando te levantas e pensas numa determinada roupa e ela magicamente está passada no armário? Pois é, não estava. Tive de aprender a estender roupa e passa-la imediatamente para não acumular montes enormes. Eu sempre tratei muito bem da minha roupa e sempre lavei à mão algumas peças mais delicadas sem esforço, mas passar a ferro não era minha tarefa e até conseguir um plano que resultasse, foram muitos dias a chegar atrasada ás aulas porque tive de passar determinada roupa antes de sair.

Controlar o dinheiro. Eu saí de casa e os meus pais continuaram a financiar-me. Antes de partir de vez, acordamos uma mesada, fora as despesas fixas, com a qual tinha de me sustentar, basicamente para comer e atividades lúdicas. Eu tinha uma boa mesada e tinha também uma pequena poupança, mas controlar os gastos nos primeiros meses foi complicado. 
Não tinha a mínima noção o que custava abastecer a casa com comida e custa. Não tinha noção que ir tantas vezes almoçar/jantar fora fosse um encargo tão significativo no orçamento e é. E não sabia que gastava tanto na noite e gastava (hoje em dia nem tanto). 
Foi todo um processo de aprendizagem, muitos momentos de economia para não ligar a pedir mais dinheiro e muitos momentos de planejamento. Aprendi a aproveitar promoções, a comprar o que é preciso e não comprar porque sim. Basicamente, aprendi a dar valor ao dinheiro.

Acordar a horas. Desde que entrei na escola quem me acordava todos os dias era o meu pai, com um doce "filhota acorda, vamos carochinha está na hora" acompanhado por um beijinho. Ora, sozinha e apenas a depender de um telemóvel para acordar, não deu certo. Foram muitas manhãs a passarem à frente, muitas manhãs a 200 km para não chegar tarde. Foi provavelmente o que mais me custou de tudo. E a única coisa com que ainda luto.
Ainda hoje, passados 6 anos, não tenho maturidade para acordar cedo, mas tento. 

Mimo. Eu tive uma infância/adolescência/inicio de idade adulta muito fácil. Tenho os melhores pais do mundo, não por tudo o que me deram materialmente, mas por tudo o que me deram emocionalmente. Ficar longe custou. Não sou uma pessoa cola, não sou extremamente carinhosa, mas o beijinho antes de dormir, as gargalhas à refeição, até mesmo as implicâncias fizeram muita falta. 
A minha mãe a ralhar para sair da banheira e o meu pai ao mesmo tempo a perguntar se estou a aprender a nadar; as danças sincronizadas ao longo do corredor onde cada um tem o seu papel; as tardes ao sol no terraço com a Shiva a roubar-nos comida; as conversas com a minha avó; as noites de cinema caseiro; as panquecas às duas da manhã. 
Todas estas pequenas tradições, que ainda hoje sinto muita falta, custaram horrores. Mas sempre pensei que não podemos ter tudo na vida e temos de andar para a frente.
É bom salientar que todas estas coisas ainda acontecem quando estou em casa. Quando há amor nada muda =)


Posto isto só tenho um conselho para quem saiu de casa à pouco tempo ou quem o vai fazer, cresçam sem medo.
Lembrem-se que os vossos pais estão com tanto ou mais medo que vocês nesta fase por isso parem de choraminguices. Sejam a parte adulta nesta fase e mostrem que está tudo bem. Vai custar sempre, em qualquer altura em qualquer idade, mas isto é viver.
Encarem os problemas de frente, peçam ajuda se precisarem, mas não hesitem. 
Crescer é isto mesmo, voar finalmente sozinhos. (Mesmo que amanha tenhamos que voltar ao ninho para um pouquinho de aconchego)

15 comentários:

  1. Admiro-te, mesmo. Eu até me considero uma pessoa independente em muitos aspetos (por exemplo, desde os 19 anos que faço tudo sozinha: cozinho as minhas refeições, passo a minha roupa, vou sozinha ao shopping, ao cinema e a onde queira ir) mas não pondero viver sozinha. Tenho mesmo o objetivo de só sair de casa dos meus pais para viver com alguém, porque acho que para mim, que já sou pouco social, viver sozinha seria péssimo.

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  2. Eu vivo soinha desde os 18. Ao inicio é complicado especialmente porque perde-se muito a "tratar de nós": lavar a roupa, cozinhar ,limpar... lol Beijinho
    The-not-so-girlygirl.blogspot.com

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  3. Sai de casa há imenso tempo e lembro me que no início o impacto foi grande :)
    Gostei imenso deste post .
    Beijinhos
    elisaumarapariganormal.blogspot.com

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  4. é sempre duro sermos nós a tomarmos conta de nós próprios mas um dia tem que ser!!!

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  5. Hoje, com 28 anos, gostava de ter tido essa experiência. Acho que me teria feito muito bem e admiro muito quem a teve!
    És uma vencedora! :)
    Beijoca***

    Visita: momentomaravilha.blogspot.pt

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  6. Também me custou muito o ano passado quando vim para Lisboa, mas agora adoro fazer todas as tarefas domésticas na minha casa em Lisboa ^^

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  7. Ohh gostei tanto! Eu também saí de casa cedinho, aos 19 anos! De Lisboa para Lisboa... Mas é tão bom sentirmos essa independencia, mesmo com todos os medos e dificuldades que isso acarrete.

    A seguir ♥

    Beijinhos*

    www.thebeautyandstuff.blogspot.pt

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  8. Que ótimo post! :) Sair de casa é sempre um passo rumo à liberdade e maturidade :)
    Beijinho
    http://themarielement.blogspot.pt/

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  9. Já passei por isso muito. Fantástico post.

    Beijinhos
    food&emotions
    http://fefoodemotions.blogspot.pt

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  10. Revi-me tanto nisto. Tal como tu, sempre fui muito mimada, e também cheguei a uma altura em que já estava mais do que pronta para viver sozinha, isto não significa é que seja tudo um mar de rosas. Custa sempre a habituar, e as mais pequenas coisas começam a ser uma grande parte do nosso dia. Mas vale a pena, custa, mas ficamos independentes. E isso só pode ser bom.

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    1. Não foi um mar de rosas mas ter o nosso espaço é tão bom!

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  11. A minha habituação foi complicada confesso. Senti especialmente dificuldade em gerir o orçamento e lembro-me da tortura que era fazer compras para casa. Ou comprava a mais e deitava fora, ou faltava.. Mas foi uma fase muito gira :)
    Obrigada pelo comentário querida!

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  12. A sério?! Que coincidência!! Fico também muito feliz pelos teus pais e por ti, claro. Espero que contem muitos e muitos :)

    Por motivos de força maior, fiz o ensino superior na minha cidade pelo que não foi necessário sair de casa dos pais. Contudo, anseio muito por esse dia. :P
    Ainda assim em casa faço de tudo e ajudo a minha mãe em todas as tarefas. Pessoalmente gosto :D

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    InstagramFacebook Oficial PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  13. Gostei do teu post. Algum dia vamos ter de sair de casa dos pais, por isso o melhor é relativizar a situação.
    Eu sou uma sortuda por ainda viver em casa dos meus pais e nunca ter precisado de sair! No entanto, a minha mãe começou desde cedo a ensinar-me o quanto custa cuidar de uma casa e, apesar de ainda viver com ela, sou eu que faço as minhas coisas e que pago as minhas despesas.
    Gostava muito de sair de casa dos pais (houve até altura em que andei a ver casas para alugar), mas como me encontro numa situação financeira mais instável estou com receio de arriscar...

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    1. Percebo perfeitamente. Sustentar uma casa é complicado mas se estás bem com os teus pais não te apresses, melhores alturas virão.

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