quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Viver numa cidade pequena

Depois da morte da minha mãe fiquei três meses seguidos na minha cidade natal. Pelas piores razões possíveis, foi uma volta às origens e há coisas que são tão características que temos de falar delas. 

Viver na minha pequena cidade é: Um terço da população ser da tua família; Sair de manhã para comprares pão fresco e encontrar 25 pessoas conhecidas e transformar um percurso de cinco minutos em meia hora; Acordares com o som dos barcos e o sentimento de casa não poder ser maior; Ires à praia todos os dias só porque sim; Voltares a andar de bicicleta diariamente; Não existirem produtos sem lactose nos supermercados; Encontrares os produtos mais frescos e deliciosos nas pequenas lojas; Reveres os teus colegas de escola e estes serem acompanhados pelos seus pequenos filhos; Não trancares a porta de casa; Veres as tuas professoras da escola primária e ainda te tratarei como uma pequena criatura; Encontrares caixas antigas no sótão dos teus pais e viajares pela memória; Conheceres as centenas de ruas como a palma das tuas mãos; Os teus familiares visitarem todos os dias; Experimentares andar de bicicleta sem mãos e surpresa, ainda conseguires; Ir ao mercado ao fim-de-semana e conheceres quem tem a banca com os melhores produtos; Comprar peixe fresco todos os dias; Reveres amigos de infância e descobrires que a cumplicidade ainda lá está; Cada rua e canto trazerem memórias. Os transportes serem tão maus que vais a todos os lugares a pé ou de bicicleta; Dizeres cinquenta vezes "bom dia" quando saís de casa porque simplesmente todos se conhecem de alguma forma; A troca de produtos vegetais entre vizinhos; Ouvires dez vezes por dia que és a cara da tua mãe; Todas as lojas fecharem à hora do almoço; Veres todas as crianças a sair da escola com as suas bicicletas; Ouvires histórias dos teus familiares a qualquer momento do dia; Ficares maravilhada com a beleza da ria mesmo que a vejas todos os dias; Os carros passarem com música muito alta e saberes, sem dúvida, que estás na tua terra; Conheceres todas as "personagens" do sítio; Respirares ar puro. 

Com todos os prós e contras, por muito amor que tenha por este local, sou na minha essência uma menina da cidade grande. 

5 comentários:

  1. Em primeiro lugar, sinto imenso pela tua mãe. Não imagino o que isso seja, mas tenho a certeza de que foi muito duro.

    Quanto à cidade, eu vivi sempre na cidade grande e sinto-me melhor em cidades pequenas. De tamanho intermédio, vá, também não gosto daqueles sítios onde não há nada =p

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  2. Oh, tem sempre tudo o seu lado bom e mau =)

    Eu não sei onde vives, mas por exemplo, acho que nunca conseguiria viver em Lisboa, cidade mesmo. Vivo nos arredores e não trocava isto por nada =)

    Beijocas

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  3. A minha aldeia também estará sempre no meu coração e sei que tem qualidade de vida como em muitos lugares não há mas... Cada vez duvido mais de ser feita para viver num sítio pequeno. Beijinhos*

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  4. Os meus pêsames, em primeiro lugar.

    E sim, viver na terriola tem vantagens mas há uma quantidade de coisas que seriam mesmo desnecessárias :)

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  5. Penso que a tua sensação é mesmo a de "estares em casa". Os meus sentimentos pela tua mãe, coragem.

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