quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O meu medo actual.

Eu tenho muitos medos. Uns práticos e tacanhos, outros abstratos e profundos, e não me canso de dizer que uma pessoa sem medos é uma pessoa vazia. São eles que nos fazem avançar. Tenho medo de ratos. Pânico. Tenho medo de Baleias, não é que me vá aparecer uma no passeio, mas morro de medo da ideia. Tenho medo de hipócritas, diga-se que é dos maiores que tenho. Tenho medo de multidões. E neste momento, tenho medo de multidões opinativas e desmemoriadas.

Há uns tempos que andamos a ouvir falar de refugiados. Vemos nas televisões imagens chocantes do que se está a passar com estas pessoas. E depois vamos ás redes sociais e o que vemos é uma grande parte da nossa população a dizer coisas como:

"São terroristas e só nos querem matar!"

"Vão sobreviver às nossas custas!"

"Morrem nas viagens porque querem. Não venham!"

"E os nossos?" (Esta é uma das que mais me arrepia.)

E com estes argumentos lá se vai a minha ideia idílica de um mundo melhor, com pessoas melhores.
Eu sou completamente a favor da liberdade de expressão, mas isto ultrapassa a minha capacidade de encaixe.
Então vejamos, existem milhões de pessoas a precisar de ajudar devido a uma guerra que ninguém quis saber (ou quiseram, mas do lado errado), pessoas a morrer, pessoas com medo, crianças sem futuro. E vamos fazer o quê? Nada, claro. Não são "nossos", que se virem. Porque não somos todos feitos do mesmo material, Não somos todos dignos do mesmo. Independente da cor, credo, nacionalidade.
Um dos maiores argumentos contra a ajuda aos refugiados é a falta de ajuda aos portugueses gravemente afetados pela nossa situação económica. E pronto, outro arrepio.
É verdade que há portugueses a passarem fome, doentes e sem muita ajuda, mas não estamos em guerra. Não temos medo de sair de casa com as nossas crianças, não temos falta de alimento. Não estamos a ser mortos por uma guerra da qual não temos culpa.
Os refugiados não vêm para cá para ficar, isso é aliás, umas das frases que repetidamente dizem, querem voltar para o seu país e reconstruí-lo. Mas para isso precisam de ajuda. E nós podemos ajudar. Devemos.
Porque esses tão fortes argumentos do "é nosso" é facilmente refutado com o número de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, onde nem todos estão lá para trabalhar como bem sabemos. Se temos a liberdade de nos deslocarmos e escolhermos o país que melhores condições nos dá no futuro, acho que temos também o dever de ajudar, aqueles que pelo contrário têm de fugir.

A imagem daquela criança morta no areal depois de morrer afogada na sua viagem de fuga é uma imagem que jamais esquecerei, assim como jamais esquecerei o ódio e materialismos que somos capazes, mesmo quando a questão nada mais é do que sobrevivência de alguém.

Um comentário:

  1. É tão isto! As pessoas têm muito medo do que não conhecem, e complica-se quando em vez de quererem perceber aproveitam TUDO para fortalecer o seu medo. Circularam tantos vídeos e notícias falsas (muitas a sugerir que vinham terroristas no meio dos refugiados, com fotos e tudo) e foi vê-las a beberem daí para manterem o seu medo, que não raras vezes descamba em ódio.

    E a imagem do menino morto também me chocou, durante dias chorava sempre que me lembrava.

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