sexta-feira, 12 de junho de 2015

Falta de talento ou falta de noção?

Eu sofro muito com a vergonha alheia. Não acho hilariante quando assisto alguém ser humilhado/gozado/vitima de uma partida. Fico constrangida, sinto-me mal por aquela pessoa e não consigo ver o menor humor nisto. Posso também colocar nesta categoria concursos onde pessoas vão testar os seus talentos. Quer dizer, eu adoro ver as pessoas realmente boas triunfar e mostrar o seu talento ao mundo. No entanto, nas centenas de talent shows que passam na tv, existe aquela parte de casting, que eu realmente não gosto. Porque? Porque se me incomoda quando uma pessoa é colocada numa posição constrangedora, ainda me incomoda mais quando é ela própria a colocar-se nessa posição.

Isto tudo porque na semana passada, numa visita aos meus pais, convidaram-me para ir a um sarau do liceu local. Como foi o liceu que frequentei durante anos e também porque íamos ver a filha de uma amiga da família, lá fui eu. E foi dramático. Era uma espécie de míni concurso para apurar o melhor cantor. E se havia, efetivamente, miúdos que cantavam muto bem, havia aqueles que me fizeram encolher na cadeira e rezar para acabar o mais rápido possível. E eu fiquei a pensar, será que os pais daquelas crianças não sabem que realmente elas não sabem cantar? Ou, mesmo vendo a falta clara de talento, incentivam-nos a realizar os seus sonhos, mesmo que se possa transformar num pesadelo?
Eu fui criada com o pensamento que tudo está ao nosso alcance. E eu acredito que com esforço, trabalho árduo, perseverança e talento, podemos ser o que quisermos. Mas o fator talento é importante, ainda mais falando em atividades artísticas. Agora, mesmo sendo educada assim, os meus pais sempre foram sinceros comigo, quando eu praticava alguma atividade onde não era boa. E é isto mesmo, como os bebés não são todos bonitos, também as crianças não são todas talentosas em certas áreas. E se é admissível uma criança de 4/5 anos cantar e todos acharem fofo, o mesmo não se passa quando essa criança tem 14/15 anos. Aí já é uma clara falta de noção.  
A minha pergunta então é, perdemos objectividade quando se trata dos nossos filhos? Eu não sou mãe, mas sei que não gostaria de colocar o meu filho numa posição constrangedora e seria sincera com ele caso ele revelasse uma clara falta de talento para uma atividade. Mas será que quando, efetivamente for mãe, deixarei de pensar assim? Será que a maternidade nos entorpece e nos faz acreditar que os nossos filhos são os melhores? 

Eu acho realmente perigoso, porque estamos a criar crianças que não têm percepção das suas limitações e se colocam em situações que podem provocar danos bastante grandes, uma vez que ninguém é imune à humilhação, muito menos quando esta é pública. 

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